segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Atividade 1.3

Influência Modernista na Obra

Ao analisar “Nome de Guerra”, temos de nos encontrar cientes do contexto em que foi escrito para o inteiramente conseguirmos estudar e apreciar, sendo por aí que desejo começar.
O Modernismo foi um movimento artístico e cultural que surgiu no final do século XIX, início do século XX, o qual teve como principal objetivo, não só quebrar com o “tradicionalismo” da época como, consequentemente, incentivar a experimentação de novas técnicas e criações pela parte dos artistas, estes que possuíam uma necessidade de mudar o meio em que viviam, evoluindo para novos conceitos. Ficou, portanto, marcado por transformações vertiginosas e caóticas, juntamente com a efemeridade e sensação de fragmentação da realidade.  
Acreditava-se que as formas das artes plásticas, literatura, música e cinema estavam totalmente ultrapassadas, devia-se, então, criar uma inteira nova cultura, um inteiro novo Mundo e todas as suas características culturais e sociais, substituindo-as por novas formas e visões. Foi a partir destes novos ideais que os modernistas começaram a desenvolver a sua arte, fazendo surgir uma nova forma de analisar e pensar o sistema vigente, sendo que a perspetiva de análise e o posicionamento do artista perante os processos da modernidade eram de extrema importância para a formação de uma estética modernista.
Este movimento representa a rutura e a respetiva inovação, fruto da perturbação infeliz que se vivia na altura. O seu epítome encontra-se no meio das duas Grandes Guerras, com novas teorias ciêntificas, crenças sociais e transformações tecnológicas, algo que o fez distanciar do sentimentalismo e desenvolver um espírito mais crítico e dinâmico, bastante ligado ao povo por vezes de forma até anárquica, dando imenso valor à originalidade e excentridade artísticas, necessários para o afastamento do passado e a aproximação de um futuro feliz e inovador após o trauma da Primeira Guerra Mundial (1914-1918).
Em Portugal, foi com a Geração de Orpheu que o Modernismo teve as suas primeiras manifestações artísticas, tendo sido nomeado assim devido à publicação da revista “Orpheu”, que teve à frente Fernando Pessoa, Mario de Sá Carneiro e Almada Negreiros (primeiros modernistas portugueses), a qual foi um grande escândalo e teve apenas um ano em decorrência.
Estando o Modernismo introduzido, tratemos então de alguns focos modernistas que se podem encontrar nesta obra, “Nome de Guerra”, do ilustre escritor, pintor e escultor, Almada Negreiros.
O enredo passa-se nos loucos anos 20 e, citando Eduardo Prado Coelho, inaugura “na nossa literatura um modelo de ficção-reflexão” que só na segunda metade do século terá continuidade. Em termos de construção narrativa, o romance representa a constante luta entre a busca da personalidade do indivíduo e as normas da sociedade para adquirir uma certa autonomia. Antunes, a personagem principal, o neófato, rebela-se contra os padrões sociais, pois “amava a verdade acima de tudo”, “quem pensa sozinho não deseja senão a verdade, as justificações são por causa dos outros”, e é esta recusa e desprezo pela sociedade onde se insere, que verifcamos um dos mais importantes paralelismos com os ideais modernistas, que desejavam a quebra com o passado.
O Antunes apaixona-se, também, por duas raparigas, que se apresentam em contraste durante todo o livro, a mulher-anjo, Maria, pura menina que tinha ficado na aldeia, e Judite, a mulher-demónio, prostituta de Lisboa. Estes esteriótipos refletem-se no, não menos convencional, binómio cidade/campo, opondo as duas grandes estacas que controlavam Luís. Sabemos, no entanto, que durante a maior parte da história, é Judite quem ele pensa amar e, escolhendo ficar com ela na capital revela, assim, a incrível sedução e curiosidade para toda a descoberta e perdição no desenvolvimento deste Mundo Novo que se estava a criar na metrópole, fruto das correntes modernistas. Estas refletem-se no livro em inúmeras situações mas, principalmente, no fortíssimo contraste entre o dia e a vida noturna, sendo que Antunes se refugiava no seu quarto enquanto havia luz, escondendo-se e sentindo-se perdido cada vez que saía, sendo incapaz de encontrar trabalho ou viver o quotidiano normal de um jovem homem com obrigações, renegando-as. Ao contrário da noite, quando saía e onde, como um mocho, se sentia mais confortável e seguro, fosse nos serões passados em bares e bordéis, fosse em passeios e desvaneiros com os seus conhecidos e Judite, atitude que revela, assim, a necessidade de viver os prazeres imorais ao máximo, ignorando, por vezes, as questões realmente importantes da vida, algo que o próprio personagem se vai aperceber no fim da obra.
O Modernismo foi, portanto, um movimento artístico intrínseco à arte como a conhecemos hoje, tendo sido crucial para a posterior consiencialização do equilíbrio e individualismo que é necessário ter, não só nela mas, como vemos no livro, na própria vida.

“O papel da sociedade é imediatamente mais evidente sobre cada pessoa do que o atropelado movimento das gerações que a antecederam e lhe determinaram o seu sangue, mas aquela não vale esta. Que uma pessoa tome a seu cargo dirigir o próprio destino que lhe coube, é com ela. Que seja a sociedade quem se proponha dirigi-lo, é ingenuidade. O mais que neste caso poderá a sociedade é eliminar esse destino pessoal. A sociedade só tem que ver com todos, não tem que cheirar com cada um!” in. "Nome de Guerra"

Mario de Sá Carneiro, Fernando Pessoa e Almada Negreiros (modernistas portugueses).




Homens e mulheres "típicos" dos anos 20.


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