Atividade 1.3
Influência Modernista na Obra
Ao analisar “Nome
de Guerra”, temos de nos encontrar cientes do contexto em que foi escrito para
o inteiramente conseguirmos estudar e apreciar, sendo por aí que desejo
começar.
O Modernismo foi um movimento artístico e
cultural que surgiu no final do século XIX, início do século XX, o qual teve
como principal objetivo, não só quebrar com o “tradicionalismo” da época como,
consequentemente, incentivar a experimentação de novas técnicas e criações pela
parte dos artistas, estes que possuíam uma necessidade de mudar o meio em que
viviam, evoluindo para novos conceitos. Ficou, portanto, marcado por
transformações vertiginosas e caóticas, juntamente com a efemeridade e sensação
de fragmentação da realidade.
Acreditava-se
que as formas das artes plásticas, literatura, música e cinema estavam totalmente
ultrapassadas, devia-se, então, criar uma inteira nova cultura, um inteiro novo
Mundo e todas as suas características culturais e sociais, substituindo-as por
novas formas e visões. Foi a partir destes novos ideais que os modernistas começaram
a desenvolver a sua arte, fazendo surgir uma nova forma de analisar e pensar o
sistema vigente, sendo que a perspetiva de análise e o posicionamento do
artista perante os processos da modernidade eram de extrema importância para a
formação de uma estética modernista.
Este movimento
representa a rutura e a respetiva inovação, fruto da perturbação infeliz que se
vivia na altura. O seu epítome encontra-se no meio das duas Grandes Guerras,
com novas teorias ciêntificas, crenças sociais e transformações tecnológicas,
algo que o fez distanciar do sentimentalismo e desenvolver um espírito mais
crítico e dinâmico, bastante ligado ao povo por vezes de forma até anárquica,
dando imenso valor à originalidade e excentridade artísticas, necessários para
o afastamento do passado e a aproximação de um futuro feliz e inovador após o
trauma da Primeira Guerra Mundial (1914-1918).
Em Portugal, foi
com a Geração de Orpheu que o
Modernismo teve as suas primeiras manifestações artísticas, tendo sido nomeado assim
devido à publicação da revista “Orpheu”, que teve à frente Fernando Pessoa,
Mario de Sá Carneiro e Almada Negreiros (primeiros modernistas portugueses), a
qual foi um grande escândalo e teve apenas um ano em decorrência.
Estando o
Modernismo introduzido, tratemos então de alguns focos modernistas que se podem
encontrar nesta obra, “Nome de Guerra”, do ilustre escritor, pintor e escultor,
Almada Negreiros.
O enredo
passa-se nos loucos anos 20 e,
citando Eduardo Prado Coelho, inaugura “na nossa literatura um modelo de
ficção-reflexão” que só na segunda metade do século terá continuidade. Em
termos de construção narrativa, o romance representa a constante luta entre a
busca da personalidade do indivíduo e as normas da sociedade para adquirir uma
certa autonomia. Antunes, a personagem principal, o neófato, rebela-se contra
os padrões sociais, pois “amava a verdade acima de tudo”, “quem pensa sozinho
não deseja senão a verdade, as justificações são por causa dos outros”, e é
esta recusa e desprezo pela sociedade onde se insere, que verifcamos um dos
mais importantes paralelismos com os ideais modernistas, que desejavam a quebra
com o passado.
O Antunes
apaixona-se, também, por duas raparigas, que se apresentam em contraste durante
todo o livro, a mulher-anjo, Maria, pura menina que tinha ficado na aldeia, e
Judite, a mulher-demónio, prostituta de Lisboa. Estes esteriótipos refletem-se
no, não menos convencional, binómio cidade/campo, opondo as duas grandes
estacas que controlavam Luís. Sabemos, no entanto, que durante a maior parte da
história, é Judite quem ele pensa amar e, escolhendo ficar com ela na capital
revela, assim, a incrível sedução e curiosidade para toda a descoberta e
perdição no desenvolvimento deste Mundo Novo que se estava a criar na metrópole,
fruto das correntes modernistas. Estas refletem-se no livro em inúmeras
situações mas, principalmente, no fortíssimo contraste entre o dia e a vida
noturna, sendo que Antunes se refugiava no seu quarto enquanto havia luz,
escondendo-se e sentindo-se perdido cada vez que saía, sendo incapaz de
encontrar trabalho ou viver o quotidiano normal de um jovem homem com
obrigações, renegando-as. Ao contrário da noite, quando saía e onde, como um
mocho, se sentia mais confortável e seguro, fosse nos serões passados em bares
e bordéis, fosse em passeios e desvaneiros com os seus conhecidos e Judite,
atitude que revela, assim, a necessidade de viver os prazeres imorais ao
máximo, ignorando, por vezes, as questões realmente importantes da vida, algo
que o próprio personagem se vai aperceber no fim da obra.
O Modernismo
foi, portanto, um movimento artístico intrínseco à arte como a conhecemos
hoje, tendo sido crucial para a posterior consiencialização do equilíbrio e
individualismo que é necessário ter, não só nela mas, como vemos no livro, na
própria vida.
“O papel da sociedade é imediatamente mais evidente sobre cada pessoa do que o atropelado movimento das gerações que a antecederam e lhe determinaram o seu sangue, mas aquela não vale esta. Que uma pessoa tome a seu cargo dirigir o próprio destino que lhe coube, é com ela. Que seja a sociedade quem se proponha dirigi-lo, é ingenuidade. O mais que neste caso poderá a sociedade é eliminar esse destino pessoal. A sociedade só tem que ver com todos, não tem que cheirar com cada um!” in. "Nome de Guerra"
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| Homens e mulheres "típicos" dos anos 20. |



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