Poemas de Judite para Antunes
1.
Não
sei como te dizer com palavras
O
quanto, sofregamente, vives em mim.
É
como perguntar a essa estrela brilhante o porquê de se levantar
Todos
os dias,
Acontece.
Quando
Numa
manhã de nevoeiro o trigo ainda está pálido ao de cima
Mas
o branco, em poucas horas, derreter-se-á naquela
Tão
efémera
Mas
tão especial, hora.
—Não
sei então explicar que tudo em mim te procura
Como
ao ar e à água
Como
à terra onde pisas todos os dias
E
onde nascem os trevos.
Esses
trevos que são da cor dos
Teus
olhos,
Que
são castanhos, mas não importa,
Serão
esperança para mim.
—Oh!
Queria saber o porquê
Do
teu sorriso fechado me fazer tremer,
Assim
como a mansidão do dia se atrapalha com o vento.
Inibida,
criança,
Essa
lúcida loucura que se dá
Quando
Nos
momentos mais distantes,
Me
olhas devagar.
Se
eu pudesse falar com sentimentos e não palavras
Entenderias
o que te quero,
Como
te quero,
Que
te quero tanto.
Que
preciso que o orvalho e os astros
E
as pedras da calçada,
Estejam
todos a favor do caminho a teu encontro.
Como
as sementes que invejam a chuva mas,
Que
sem fome de crescer não conseguiriam nascer.
Que
estou loucamente apaixonada
Por
ti
Mas
não te sei dizer o que é o amor,
Ou
é único ou não é nenhum, dissolve a ansiedade.
Que
sempre que penso que vou conseguir dizer algo acertado,
Sinto,
depois, que faltam todas
As
aves e árvores e cores
Para
te dar.
Que
tudo está torto e fora do sítio
Sempre
que os teus lábios
Não
tocam nos meus
Ou
as minhas mãos não estão
Nos
remoinhos do teu cabelo e do teu peito.
—Loucamente
ignóbil será dizer que o meu jovem silêncio
É
como se a sinfonia que sempre ouvimos
No
gira discos
Quisesse
falar mas não houvesse como,
Não
houvesse nada.
Que
preciso que me ensines a razão e porquê de,
Com
a mesma força,
Estar
tão distante mas tão presente.
Não
sei como te dizer
Que
és a todo o instante de vida em mim e que
Cá
dentro —a luz, a tela, o perfume
A
existência e o som—
Estão
à espera que chegues.
Estão
à espera, só,
De te encontrar.
2.
E sentada à janela o céu está mais escuro esta
noite.
As estrelas que antes pareciam fugir, hoje estão
comigo,
Febris de dor,
Febris de vida passada porém,
Ainda não vivida.
Já eu, vivi tanto e tenho tão pouca em mim.
3.
A lembrança da chuva treme ultrapassada pela luz
da lua
E em cada gota que sobrevive vejo a morte de
outro pedaço meu.
Os olhos forçam as pálpebras
E a
lágrima cai na esperança de que,
Se eles
não se fecharem,
Continuarei viva.
4.
A madrugada luta para nascer e eu tenho tanto
frio.
Os lábios, o nariz, as mãos, os dedos,
Cada dedo.
O peito despido de chama branca
Aquece com cada peça que tiro.
O casaco cai e é um suspiro mais profundo que me
consola.
As meias, as calças,
A garganta ferve.
Solto a camisola e de repente vem o vento.
A geada queima e eu despida nunca me senti tão
quente.
5.
Pelo meio de um copo e de um cigarro
Surge no meu fumo um cumulonimbus.
E eu não sei jamais se estou ciente ou não
Mas aquela nuvem paira sobre mim e cresce,
Cresce até tocar no ramo mais alto.
De manhã ouvi que havia sido uma noite de
nevoeiro,
Ingénuos.
De acreditar que um ar tão denso não teria sido
de tristeza criado.
6.
Por tão vasto Mundo estas solas já caminharam,
Por tanto musgo e tanta solidão.
Apaixonaram e namoraram cada caminho que escolheram.
Sofreram a cada passo um beijo.
Ainda assim, só quando numa destas viagens,
por entre as folhas e os medrosos raios de sol,
te encontraram a ti (a ti)
Perceberam que estavam apenas sedentas de em vez
de terra,
ter alguém.
7.
Dança comigo.
O silêncio não impede que cantes ao meu ouvido,
Ou eu no teu.
Além disso,
O bater do teu coração é a melodia mais bonita.
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