terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Atividade 1.7.
Poemas de Judite para Antunes

1.
Não sei como te dizer com palavras
O quanto, sofregamente, vives em mim.
É como perguntar a essa estrela brilhante o porquê de se levantar
Todos os dias,
Acontece.
Quando
Numa manhã de nevoeiro o trigo ainda está pálido ao de cima
Mas o branco, em poucas horas, derreter-se-á naquela
Tão efémera
Mas tão especial, hora.
—Não sei então explicar que tudo em mim te procura
Como ao ar e à água
Como à terra onde pisas todos os dias
E onde nascem os trevos.
Esses trevos que são da cor dos
Teus olhos,
Que são castanhos, mas não importa,
Serão esperança para mim.
—Oh! Queria saber o porquê
Do teu sorriso fechado me fazer tremer,
Assim como a mansidão do dia se atrapalha com o vento.
Inibida, criança,
Essa lúcida loucura que se dá
Quando
Nos momentos mais distantes,
Me olhas devagar.
Se eu pudesse falar com sentimentos e não palavras
Entenderias o que te quero,
Como te quero,
Que te quero tanto.
Que preciso que o orvalho e os astros
E as pedras da calçada,
Estejam todos a favor do caminho a teu encontro.
Como as sementes que invejam a chuva mas,
Que sem fome de crescer não conseguiriam nascer.
Que estou loucamente apaixonada
Por ti
Mas não te sei dizer o que é o amor,
Ou é único ou não é nenhum, dissolve a ansiedade.
Que sempre que penso que vou conseguir dizer algo acertado,
Sinto, depois, que faltam todas
As aves e árvores e cores
Para te dar.
Que tudo está torto e fora do sítio
Sempre que os teus lábios
Não tocam nos meus
Ou as minhas mãos não estão
Nos remoinhos do teu cabelo e do teu peito.
—Loucamente ignóbil será dizer que o meu jovem silêncio
É como se a sinfonia que sempre ouvimos
No gira discos
Quisesse falar mas não houvesse como,
Não houvesse nada.
Que preciso que me ensines a razão e porquê de,
Com a mesma força,
Estar tão distante mas tão presente.
Não sei como te dizer
Que és a todo o instante de vida em mim e que
Cá dentro —a luz, a tela, o perfume
A existência e o som—
Estão à espera que chegues.
Estão à espera, só,
De te encontrar.
2.
E sentada à janela o céu está mais escuro esta noite.
As estrelas que antes pareciam fugir, hoje estão comigo,
Febris de dor,
Febris de vida passada porém,
Ainda não vivida.
Já eu, vivi tanto e tenho tão pouca em mim.


3.
A lembrança da chuva treme ultrapassada pela luz da lua
E em cada gota que sobrevive vejo a morte de outro pedaço meu.
Os olhos forçam as pálpebras
 E a lágrima cai na esperança de que,
 Se eles não se fecharem,
Continuarei viva.

4.
A madrugada luta para nascer e eu tenho tanto frio.
Os lábios, o nariz, as mãos, os dedos,
Cada dedo.
O peito despido de chama branca
Aquece com cada peça que tiro.
O casaco cai e é um suspiro mais profundo que me consola.
As meias, as calças,
A garganta ferve.
Solto a camisola e de repente vem o vento.
A geada queima e eu despida nunca me senti tão quente.


5.
Pelo meio de um copo e de um cigarro
Surge no meu fumo um cumulonimbus.
E eu não sei jamais se estou ciente ou não
Mas aquela nuvem paira sobre mim e cresce,
Cresce até tocar no ramo mais alto.
De manhã ouvi que havia sido uma noite de nevoeiro,
Ingénuos.
De acreditar que um ar tão denso não teria sido de tristeza criado.

6.
Por tão vasto Mundo estas solas já caminharam,
Por tanto musgo e tanta solidão.
Apaixonaram e namoraram cada caminho que escolheram.
Sofreram a cada passo um beijo.
Ainda assim, só quando numa destas viagens,
por entre as folhas e os medrosos raios de sol,
te encontraram a ti (a ti)
Perceberam que estavam apenas sedentas de em vez de terra,
ter alguém.

7.
Dança comigo.
O silêncio não impede que cantes ao meu ouvido,
Ou eu no teu.
Além disso,
O bater do teu coração é a melodia mais bonita.

Sem comentários:

Enviar um comentário