Diário de Leitura
Comecei a leitura do “Amor de Perdição” dia 26
de Outubro, tendo terminado a mesma no dia 22 de Novembro. Neste diário escolhi, devido ao pouco tempo
que tenho, fazer uma carta para cada semana de leitura que experiênciei,
dirigida a Simão Botelho, personagem principal do livro, em vez de escrever um
pequeno relatório todos os dias em que lia.
Primeira
Semana de Leitura, de 26 de Outubro a 1 de Novembro
Querido
Simão,
Embora
comece assim, não quero de nenhuma maneira dar a ideia de que estou apaixonada
por ti como todas as outras, no entanto, chamar-te de “amigo” ou “adorado”
parece-me algo que, igualmente, não se adeque. Talvez o faça daqui a uns
tempos, quando a nossa realação evoluir e eu já te conhecer melhor, mas agora
não.
Ser
jovem e estar apixonado é duro, não é, Simão? Tão injusta que é a tua situação,
estar enamorado de Teresa e não poderes estar com ela. Confesso que não percebo
o desentendimento dos vossos pais, visto que acho que questões burocráticas não
deveriam interferir com amores jovens, muito menos com o vosso, tão sincero e
verdadeiro.
Como vai
Coimbra? Li que voltaste para lá devido a conflitos óbvios nos últimos dias. Li
também que Baltasar pretende casar com Teresa, mas não te afliges meu caro, ela
não quer, ela não o fará, ela ama-te demais. Nunca a largaria se fosse a ti,
nem nunca desistiria dela, sabes que foi ameaçada de ir para um convento, não
sabes? Tudo por recusar-se a casar com alguém que não tu, és um sortudo por teres
encontrado alguém assim.
Tenho
pena de não teres assassinado Baltasar na festa de aniversário da Teresa, não
há homem mais falso e mesquinho que aquele se queres que te seja sincera, mas
compreendo que não o tenhas feito, pelo menos assim a hipótese de conseguires
estar com ela não morre já, ainda há esperança!
Ela
ama-te tanto, Simão. Não desistas. Não já, Simão.
Da jovem
leitora da tua história,
Eva.
Segunda
Semana de Leitura, de 2 a 8 de Novembro
Simão,
Estou
chateada contigo, foste imprudente e pouco cauteloso, e essas tuas
características causaram a morte de Baltasar. Não que não me agrade o facto do
diabo do homem ter morrido de vez, mas sim porque sei que agora não vais
conseguir, facilmente, estar com Teresa. Por outro lado, parabéns. Não tinhas
até hoje mostrado tanta dedicação e amor pela tua amada, fizeste um gesto
bonito e tenho a certeza de que a comoveste.
Pobre
Teresa, fechada num convento mundano e habitado por freiras cuscas e pecadoras.
Foi lindo da tua parte tentares salvá-la, mas o que vais fazer agora? Vais ser
condenado, Simão! O assassinato é um crime grave, não te vais conseguir safar
desta, nem há ninguém que te possa salvar, a não ser teu pai. Lembrei-me
enquanto lia, que secalhar o teu pai podia puxar uns cordelinhos e fazer com
que te aleviassem a pena, será que o vai fazer? A espera mata-me!
Falemos
agora da Mariana, doce Mariana. Já são duas apaixonadas por ti, percebes isso,
não percebes? Sei que por ela não nutres sentimentos amorosos, mas não a
iludas, Simão, que a pequena rapariga não o merece. Trata-a como uma irmã e não
como se estivesses a apaixonar-te por ela, por favor, Simão. Não há nada mais
doloroso do que ler de uma rapariga iludida de amores.
Se me
dissessem que um miúdo violento se teria, em poucos meses, tornado num homem
honesto e bondoso como tu, não acreditaria. Fico feliz por ti. Penso que na
próxima carta já te tatarei por meu amigo, que tal?
A vida é
feita de escolhas, Simão. As tuas foram as melhores e piores que podias ter
feito, fica já aqui dito.
Da jovem
leitora da tua história,
Eva.
Terceira
Semana de Leitura, de 9 a 15 de Novembro
Meu
querido amigo Simão,
Viste?
Tratei-te por amigo, gosto muito de ti. Já não julgo Mariana e Teresa por te
amarem tanto, visto que está provado que têm razões para o fazer.
Foste
condenado à forca e li que a tu amada não reagiu bem. Se queres que te diga,
nem eu reagi bem, Simão! Se não fosses uma personagem inventada, adotaria
também a vontade delas de morrer por ti! Mariana está perdida de amores, espero
que saibas, e Teresa confessa também que já não há nada que valha a pena viver
se tu não estás no mesmo mundo que ela.
Tens,
realmente, pessoas na tua vida que gostam muito de ti, entre elas está o teu
pai que conseguiu que não te condenassem à forca. Queixavas-te tu dele mas
agora vês que o amor de pai é maior que tudo. Bendito seja o senhor Domingos!
Bom homem, sim.
Não sei
se te chegou aos ouvidos ou não, mas Teresa quis ir ter contigo à prisão quando
souba que irias morrer, queria ver-te, beijar-te e despedir-se de ti.
Persuadiram-na a não o fazer, no entanto. Oh, porque será assim tão difícil
fazer com que um amor como o vosso resulte? Tinha tudo para dar certo se não
fossem as manias da moral e sociedade. É sempre culpa dos outros, é sempre.
Trago-te
más notícias, também. Teresa está doente, Simão. Muito doente, doente ao ponto
do seu pai querer levá-la para casa e para fora daquele convento amaldiçoado.
Mas ela recusou, ela disse que preferia morrer se não te pudesse ter. Ela não
foi embora, Simão. Tens de a salvar, ou despedir-te pelo menos.
Seria
demasiado injusto se Deus não vos concedesse, pelo menos, mais um momento
juntos. Diz-me que vais a ela, Simão, preciso que me garantas que não vai
morrer mais uma rapariga sem ver o seu amor, preciso disto.
Nunca
desistas.
Da jovem
leitora da tua história,
Eva.
Quarta
Semana de Leitura, de 16 a 22 de Novembro
Querido
Simão,
Mal
tinha eu acabado de ler que tinhas sido imposto dez anos na Índia em vez de
morreres, começa logo tudo a correr mal.
Teresa
morreu, Simão, eu sei que já sabes mas parece-me demasiado irreal para não o
escrever. Ela morreu, mas não entristeças de mais pois sabes que morreu a
amar-te mais que à própria vida.
Como eu
esperava, foste com Mariana para o barco rumo ao outro continente. Pobre
rapariga. Outra que te ama mais que a ela própria. Esse teu charme não te deve
mesmo perdoar, visto que até através de páginas e palavras o consigo ver.
Sinto-me
tola porque, agora que acabei de ler a tua história, sei que morreste, e mesmo
sabendo isto continuo a escrever-te. Porque foste tu morrer, Simão?
Morres-te
tu e Teresa por doença, morreu Mariana por não aguentar suportar a ideia de
viver uma vida sem ti. Morri eu, porque agora, desolada, não consigo pensar
noutra coisa senão no “e se algo tivesse sido diferente?”. Estarias vivo se não
tivesses visto Teresa da janela do teu quarto? Estarias vivo se os vossos pais
não fossem bonecos de fantoche em classes socias corruptas? Estarias vivo se eu
não tivesse tido a feliz ideia de ler este livro?
São
demasiadas perguntas sem resposta, Simão.
Despeço-me
agora dizendo que lamento, lamento por tudo o que aconteceu e não devia ter
acontecido.
Serás
sempre imortal para mim, enquanto as tuas cartas estiverem vivas, estarás
sempre vivo para mim.
Da jovem
leitora da tua história,
Eva.




Eva, parabéns pelo excelente trabalho apresentado.
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